Flash

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Cartas


 Em janeiro de 1926, Bandeira foi a Pouso Alto, Minas Gerais. Foi também descansar uns tempos na casa de Ribeiro Couto, que nessa época era promotor nessa cidade mineira. Certo  dia passou por lá Carlos Drummond de Andrade, para “um jantar entre dois trens”, como relatou o próprio poeta mineiro. Conheceram-se pessoalmente o autor de A cinza das horas e o futuro autor de Alguma poesia, pois por carta já se conheciam há alguns anos. Em “carta a Mário de Andrade, Bandeira assim se referiu a Drummond: “O Drummond jantou aqui conosco. Feinho pra burro. Implicantinho. A gente não faz fé. Couto deu uma esfrega de verve nele. Afinal já no trole a caminho da estação ele riu. Uma semana depois ele escreveu de Belo Horizonte se rindo muito e mandando quatro poemetos, três dos quais deliciosos, perfeitos, definitivos”. Drummond, por sua vez, também relatou o episódio em carta a Mpário de Andrade: “ Que jantarzinho agradável foi esse, e que pena você não estar presente! Falamos um pouco de tudo e não chegamos a acordo sobre nada. Gostei muito deles dois, se bem que achasse o Ribeiro Couto mais expansivo que o Manuel. Este último é assim mesmo? Porém mesmo assim gostei muito dele. São dois camaradões, não há dúvida”.
Sobre a viagem de volta de Pouso Alto para o Rio de Janeiro, existe também uma carta saborosíssima de Bandeira para Joanita Blank, datada de 11 de fevereiro e 1926:
‘Pois, minha gente, foi uma expedição! Primeiro pra começar, a estrada de Pouso Alto para a estação estava se consertando, de sorte que não passava nem automóvel nem charrete. À vista do que tivemos que ir... de carro de boi! Dois caixões com uma manta por cima e nos instalamos eu, a Menina [mulher de Ribeiro Couto] e o Couto e levamos uma hora pra chegar – uma coisa que o automóvel faz em 10 minutos. [...] O carro ia cantando, o crepúsculo estava estupendo e o Couto (que raspou a cabeça à máquina! Está agora completo!) me disse: “ Você Manuelzinho, nunca pensou que havia de ter a honra de viajar em cima de um órgão!”.
Chegados na estação soubemos que o trenzinho vinha com um atraso de 2 horas. Apenas. Ficamos lá como almas penas [...] Chegamos a Cruzeiro, para estranha a cama, não dormir e no dia seguinte viajar de dia, que me cansa tanto? Pois sim! Comprei passagem no noturno, sem cama. Chegou o trem com meia hora de atraso. COMPLETAMENTE CHEIO. O Couto quis me reter. Eu arrisquei viajar a pé. Tive sorte. Logo que o trem partiu, passou o chefe do trem e eu, com o meu arzinho mais corruptor, perguntei se não podia se dar um jeito pra me arranjar cama. [...] Não dormi mas fiz melhor: ouvi durante toda a noite o poema futurista “Petreque-petreque! Petreque-petreque! Túnel! Petreque-petreque! Pontilhão! Petreque-petreque!- fiiiiiiiii...u! Parada. A lanterninha do vigia. Uma voz no meio da noite. Etc.



Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1925.
Mário.
Recebi a carta, os versos. Antes de mais nada - chegaram as três colaborações.
Como a "Cidade Nova" vai sair na 2ª semana, para não ficar muito verso numa semana darei P o trecho de romance, depois os "Losangos", depois o "Cartaz".189 Tudo está muito bom. Engraçado: você está atravessando a mesma fase que eu no tempo do Carnaval, - o de pesquisas técnicas e eu sinto que você está experimentando a mesma volúpia porque você nem eu demos pra isso pelo prazer de vencer uma dificuldade, como o Guilherme, por ex., gosta de fazer, mas unicamente por inquietação expressiva: até parece que há um estado de alma em que existe essa necessidade de pesquisa. Isso digo a propósito dos "Losangos". Começou o "Mês". 0 mineiro achei fraco, uma maneira de dizer muito influenciada por você e um tonzinho um pouco conceited. Quando ontem comecei a ler o artigo do Sérgio, pensei comigo: esta gente está explicando demais! Porém achei o explicador bom. Hoje sou eu. Só quero ver o que você diz do meu (Adeus de) Teresa...
A sua carta me deixou estupefacto. Eu não sabia que era assim! Puxa, agora sou eu que tenho medo da responsabilidade. Estas coisas que você me escreveu são tão sérias e tão enormemente comoventes na boca de um homem que é melhor não comentar. Tive de refletir sobre os meus próprios sentimentos que não eram e ainda não estão muito claros. Mas \,ocê ajudou a análise e me tirou do caminho errado porque, te digo com toda a franqueza, eu já estava muito inclinado a pensar que não lhe queria verdadeiramente bem, mas apenas uma profunda e gostosíssima admiração. Isso nasceu com toda a certeza do fato de ter a nossa amizade nascido e crescido em cartas. Há uma diferença grande entre o você da vida e o você das cartas. Parece que os dois vocês estão trocados: o das cartas é que é o da vida e o da vida é que é o das cartas. Nas cartas você se abre, pede explicação, esculhamba, diz merda e vá se foder; quando está com a gente é... paulista. Frieza bruma latinidade em maior proporção pudores de exceção. Você esteve na minha casa aqui e não cometeu a menor indiscrição: não olhou pra nada. Eu quando fui à sua, escrafunchei tudo. Você tem uma natureza retalhada de mil direções afetivas e certas coisas que eu não saberia dizer agora quais são me aporrinham, mas você disse uma coisa baita na sua carta que é aquela atenção paterna com que eu quero que as suas coisas fiquem excelentes. Mas ainda isso eu poderia explicar do seguinte modo: eu carrego uma porção de coisas que não sei exprimir; você sente essas coisas como eu por exemplo a vida brasileira; quando eu vejo uma coisa dessas expressa por você sinto uma doçura indefinível -tão doce que agora fiquei com os olhos cheios de água só de aludir a isso! É natural, pois, que quando no meio aparece um detalhe que não vem na mão eu fale pra que tudo seja gostosura. Eu noto mais a minha amizade na raiva com que te defendo. Tenho ensinado muita gente a compreender e gostar de você. Muita gente rebelde vai cedendo terreno mas manhosamente, voltando com ataquesinhos em que procuram interessar a minha vaidade, opondo-me a você. Instantaneamente eu reajo com aquela nitidez verbal que em mim é sinal certo de tesão intelectual. 0 que você diz da hora da morte acho que é verdade... Com as mulheres eu sou capaz de ser a todo o instante como poderei ser com os homens só na hora da morte ou então de gravidade tão grande quanto a hora da morte. Mas essa força a que voce se refere existe em mim -veio da doença - e eu tenho plena consciência dela. A minha meiguice é uma coisa formidável, Mário, e às vezes me sufoca.
Precisamente tudo isto aconteceu num momento dela. Eu tenho vivido numa exaltação que parece que vou arrebentar. Deus me livre de arrebentar agora! Eu morreria desesperado. Mas voltemos a você. 0 "Ponteando sobre o amigo bom" está numa altura e numa perfeição que é uma delícia pra mim. Não mexa no 1 "Eu desejo que todos os rapazes deste mundo"-Não há monotonia. Pode mudar o desprendimento fecundo e militar (não foi esse verso que você achou sem ritmo?) Não entendo "Enquanto a gente for se escutando as palavras" (o ritmo e a música estão muito bonitos). Não notei a ressonância "encia", mas depois que você chamou a atenção, passei a senti-Ia. 0 que me parece é que você quer fazer poesia de sentimento e não de emoção. Pode a emoção aparecer no sentimento, mas este sempre é dominador e cíclico. Dá esse repouso de altitudes. Somente, Mário, você não está fazendo poesia assim porque anda pensando nisso -você não o conseguiria! Você está pensando assim porque a poesia que se está agitando em você é que é assim. Mas isso não tem importância, basta que você saiba, pra seu gozo pessoal, que este "Ponteando" e a "Tarde, te quero bem" produzem exatamente a impressão - com que você sonha - de ardência interior, de pureza que enleva. A técnica, o ritmo estão uma coisa nova: não é metrificação nem é verso livre. Parece que todos os versos tem a mesma medida - o mesmo no de sílabas - com ritmos diversos.
Mário, você deve ter a consciência que eu não podia responder direito aos seus versos e a sua carta. Elas vieram de muito de cima e depois eu estou absolutamente incapaz de coordenar o que sinto e penso.
Um grande e comovido abraço do
M.
PS. Ponha "Canção do ai alegre".


Manu
do coração, fui à merda como você me mandou porém fui xingando "Manu tá besta" todo o tempo. Você me pergunta: "Será mesmo que você pensa que eu te aprecio porque te quero bem?" Nunca imaginei isso e a prova é a importância que os reparos críticos de você sobre as minhas coisas tem pra mim. Faz dias um amigo daqui falou tiririca que ele e os outros dizem que não gostam duma coisa minha e que eu sorrio não me incomodo e sustento a coisa. Não é bem isso não: me incomodo porém sustento a coisa porque geralmente constantemente só falam "não gostei" ou então como no caso da "Maria" dizem: Tire o "edição de Oxford" porque isso é erudição. Você compreende: que valor crítico pode ter uma crítica dessas? Da "Cantiga do ai!" que todos detestaram (menos o Couto, parece) acharam que era sentimentalismo chorão, quando eu recitei ela com boca sorrindo, ritmo vivo e voz clara. Até essa incompreensão me lembrou esclarecer o nome botando "Cantiga alegre do ai" ou "Cantiga do ai alegre", como que você acha melhor? 0 segundo, não? Ou "Cantiga do ai feliz"? Me responda sobre isso. Mas quando você me faz qualquer reparo, geralmente aceito (até uns tempos andei aceitando com docilidade por demais) e quando não aceito modifico, parafuso, repenso, trabalho e sempre fico numa dúvida baita. Isso prova que sei que você me aprecia porque aprecia mesmo, com inteligência, com crítica, com independência de coração. Depois inda vem outra pergunta na carta gostosa de você: "E será mesmo que eu te quero bem?" Quer, Manu... Você me quer muito bem. Você comenta que a nossa amizade é carteada... Isso não quer dizer nada, Manu! Isso é que é o mais puro mais elevado mais masculino feitio e manifestação de amizade. Você me quer um bem danado no que aliás tem certeza que é correspondido ponto por ponto. Repare no carinho infinito, atenção paterna com que você quer que as minhas coisas fiquem excelentes. Não é a gente falando um pro outro "eu sou amigo de você" que mostra amizade não. É num pensamento constante do amigo, é numa palpitação pelo amigo, é no "desejo de sentir o amigo" quando se está longe. E você se for capaz afirme que não sente isso por mim. Sente, Manu. Porque, quando alguém me fala que admira que nem eu o James Joyce eu digo: "esse sujeito é inteligente" e quando me fala que admira você não digo nada não penso nada porém sinto o prazer físico duma vitória? Depois dessa sensação é que posso refletir sobre a inteligência do sujeito, sobre o valor da sensibilidade dele porém primeiro eu senti uma vitória minha, que nem pai cujo filho teve distinção. Primeiro a gente se revê no que foi distinto e tem orgulho dele. E já que entrei nesta explicação de amizade, por 1' e última vez me deixe falar mais uma coisa de que não me envergonho nem peço retribuição. Eu considero você meu maior amigo, o Amigo, o que eu queria ter a meu lado na hora da minha morte que como você sabe deve ser uma hora em que a gente não tem tempo pra esperdiçar. Eu sei que você havia de descobrir num gesto numa palavra num olhar aquele conforto que faz a gente largar esta gostosura de vida na Terra certo de que inda permanecerá. Eu sei disso porque dentro de suas cartas de vez em quando a amizade espia e vem um bafo quente dela que me faz enormemente confortado e feliz. Por discrição besta, por seqüestro devido aos resquícios de diletantismo que inda sobram dentro de mim inda não tive coragem pra te mandar o poema escrito em outubro passado pra você. É da minha fase nova e tenho a certeza de que nunca escrevi mais elevado coisas mais bem sentidas. É no meu conceito ou por outra na minha concepção atual de Poesia, coisa que começou realmente, que se tornou bem consciente com "Tarde, te quero bem". Agora meu desejo é esse: construir o poema pau, o poema que não tem nenhuma excitação exterior, nem de pândega, nem de efeitos nenhuns nem de sentimentos vivazes. Nada que flameje, que rutile, que espicace. Nada de condimentos nem de enfeites. 0 poema poesia construido com pensamento condicionando o lirismo que tem de ser enorme (senão não transparece) o mais formidável que puder porém duma ardência como que escondida porque inteiramente interior. Enfim: o poema inglês. ShelleyKeats, Wordsworth, Swinburne, Yeats, dessa gente. Pleiteio por Álvares de Azevedo contra Castro Alves, caso típico de poesia excitante, poesia condimento, poesia cocktail, poesia-coisas-assim. Quero construir o poema que não se pode ler no bonde, o poema que não carece de ser recitado, ao contrário que perde quando recitado (o tempo dos rapsodos e dos menestréis já passou) o poema que carece ser lido e entendido e o amor verdadeiro há-de descobrir dentro dele o fogo e o foco ardentíssimos porém que não queimam, em vez elevam consolam e são fecundos. Você já viu "Maturidade", já viu "Momento nº 8" e já viu "Tarde, te quero bem". Pois agora veja este "Ponteando sobre o amigo bom". Leia quando estiver disposto, medite. E veja que fatura forte, que-dê verso livre dentro desses versos aparentemente livres? Não tem. E tão medido em tudo, muito mais que um poema parnasiano sem cair no Parnasianismo. Muitas vezes tenho tentado fazer poemas deste meu novo gênero sem poder... Requer uma disposição toda especial e tão concentrada de lirismo que não é muito comum a gente se achar nela. 0 poema enormemente ingênuo!... Tenho ainda nesta fase um "Ponteando sobre o rapaz morto" que principia com esta ingenuidade enorme: "Morto, suavemente ele repousa sobre as flores do caixão". E dou minha palavra que não pretendi fazer primitivismosaiu. Pois leia medite e responda. Estou numa maturidade sublime. Me sinto forte e elevadíssimo. Numa felicidade fantástica feita de êxtase calmo, a calma grande de verão pleno, às 13 horas. Pode ser que eu me engane muito porém a verdade é que me sinto feliz, dentro bem do meu destino e isso me basta.
Porém o que motivou o arrebentamento daquela minha carta não foi não querer que você goste das minhas coisas ou coisa parecida. Foi você me obrigar, querer me obrigar a bancar o gênio pela Noite, a bancar o escritor sério pra vocês mantidos pela artilharia de proteção poderem pagodear à vontade. P...! pois eu não posso pagodear também! Dei o cavaco. Palavra que tive vontade que saíssem coisas bem ruins as minhas colaborações só pra vocês se desiludirem e montarem no porco. 0 que eu quero não é que vocês não me apreciem e o digam (isso anima) quero mais é que vocês não me obriguem a dar mais do que posso e esperem de mim mais do que posso dar. Me deixem poetinha menor como tenho certeza de ser (na verdade acho a opinião que você tem de mim exagerada porém sei que isso provém duma correspondência especial de sensibilidade e não de você querer bem) e então e,-, vez de desilusões comigo terão prazer com as minhas coisas.
E pra você ver o que é amizade fui à merda com esta carta porém obriguei você a ir junto comigo. Agüenta, Felipe
Ciao. Estou melhorando.
Mário

Rio de Janeiro, 15 de março de 1929.
 Mário
(...)
O “libertino” me agrada extraordinariamente e pouco me importa que tomem por outra coisa. Me lembrei outro dia desse título Outra coisa. O Alcântara achou muito bom. Que acha? Eu prefiro este que Rodrigo proprôs: Libertinagem apesar de haver o Le libertinage de Aragon, estou tentadíssimo. Libertinagemserve para a forma e por ironia para o fundo. Nem é tão irônico assim: na “Oração a Terezinha do Menino Jesus” há uma confusão de oração e cantata, da santa e da mulher, que tem alguma coisa de sacrílego, de “libertino” no sentido original francês. Libertinagem é dúbio, é triste, é geral, é breve, é bonito...
Cunha ou coroa? Libertinagem ou Outra coisa? Ou outra coisa?
Abraços do
 M.


Rio de Janeiro, segunda feira [8 de dezembro de 1924].
Mário.
Quero que você me situe o Paul Reverdy na poesia moderna. O sérgio deu-me de presente Les épaves du ciell, certo de que eu gostaria muito.
Li, reli, estudei, de cabeça p’ra cima, de cabeça p’ra baixo e não compreendi nem senti coisíssima nenhuma. Tive a impressão de estar lendo as concepções de um habitante de outro planeta que por milagre despencasse na terra, conhecendo o vocabulário francês sem porém ligar os vocábulos às coisas significadas. O que me espanta não é não compreender: é não sentir a mínima emoção artística, nada, nada, NADA.
Já peguei no livro em ocasiões diversas, e de uma delas me sentia inteligentíssimo. Pois ao cabo de alguns minutos senti aquela impressão de cansaço em que nada tem sentido, mesmo as coisas mais habituais.
Explique-me isso e mande-me o endereço do Rubens.
Abraços
M.

Cartas


[São Paulo, fevereiro de 1923].
Querido Manuel.
Não me condenes antes que me explique.      
Depois perdoarás.    
Foi assim. Desde que cheguei ao Rio disse aos amigos: Dois dias de Carnaval serão meus. Quero estar livre e só. Para gozar e para observar. Na segunda-feira, passarei o dia com Manuel, em Petrópolis. Voltarei à noite para ver os afamados cordões.
Meu Manuel... Carnaval!... Perdi o trem, perdi a vergonha, perdi a energia... Perdi tudo. Menos minha faculdade de gozar, de delirar... Fui ordinaríssimo. Além do mais: uma aventura curiosíssima. Desculpa contar-te toda esta pornografia. Mas... Que delícia, Manuel, o Carnaval do Rio! Que delícia, principalmente, meu Carnaval! Se estivesses aqui, a meu lado, vendo-me o sorriso camarada, meio envergonhado, meio safado com que te escrevo: ririas. Ririas cheio de amizade e de perdão.
Nada me faz esquecer-te. Mas quem falou em esquecimentos e abandono? Nem tu, tenho certeza disso. Foi leviandade. Criançada nada mais. Meu cérebro acanhado, brumoso de paulista, por mais que se iluminasse em desvarios, em prodigalidades de sons, luzes, cores, perfumes, pândegas, alegria, que sei lá!, nunca seria capaz de imaginar um Carnaval carioca, antes de vê-lo. Foi o que se deu. Imaginei-o paulistamente. Havia um quê de neblina, de ordem, de aristocracia nesse delírio imaginado por mim. Eis que sábado, às 13 horas, desemboco na Avenida. Santo Deus! Será possível!...
Sabes: fiquei enojado. Foi um choque terrível. Tanta vulgaridade. Tanta gritaria. Tanto, tantíssimo ridículo. Acreditei não suportar um dia a funçanata chula, bunda e tupinambá. Cafraria vilíssima, dissaborida. Última análise: “Estupidez”!
Assim julguei depois de dez minutos que não ficaria meia hora na cidade.
Mas, por isso talvez que tanto tenho sofrido dos julgamentos levianos, jurei para mim olhar sempre as coisas com amor e procurar compreendê-las antes de as julgar. Comecei a observar. Comecei a compreender. Uma conversa iluminava-me agora sobre uma ridícula baiana que há pouco vira. A pobreza de uns explicava-me a brincadeira de outros.
Admirei repentinamente o legítimo carnavalesco, o carnavalesco carioca, o que é só carnavalesco, pula e canta e dança quatro dias sem parar. Vi que era um puro! Isso me entonteceu e me extasiou. O carnavalesco legítimo, Manuel, é um puro. Nem lascivo, nem sensual. Nada disso. Canta e dança. Segui um deles ema hora talvez. Um samba num café. Entrei. Outra hora se gastou.
Manuel: sem comprar um lança-perfume, uma rodela de confete, um rolo de serpentina, diverti-me 4 noites inteiras e o que dos dois dias me sobrou do sono merecido.
E aí está porque não fui visitar-te.
Estou perdoado.
Sei que me perdoarás principalmente quando souberes que até parentes, moradores da rua Dona Mariana, deixei de visitar.
Principalmente quando souberes que tendo perdido tantas coisas no Carnaval, não perdi a máquina fotográfica, antes cinematográfica de meu subconsciente. Aqui estou na vida cotidiana. Pois não é que ontem começaram a s revelar fotografias e fotografias dentro de mim! Pois não é que, No écran das folhas brancas, começou a se desenrolar o filme moderníssimo dum poema!
“Carnaval carioca”. Está saindo. Parece mesmo que estou satisfeito com ele. Será mais ou menos longo. E muito meu. Há um trechinho sobre o destino do poeta, descrevo a dona de minha aventura, rezo, canto, grito... O diabo! O menos jeune-fille dos meus poemas. Quando estiver pronto, receberás cópia.
Mas basta de Carnaval.
Quero agora dizer-te quanto me agradou o carinho e a verdade do teu artigo. És muito bom e muito amigo. Muito obrigado. – Nem podes imaginar como é grande este “muito obrigado” porque não imaginas o benefício que me fazes. Eu, diretor (ex, porque já chegou o homem que eu substituía) do Conservatório, crítico gritador, homem corajoso, forte... Pura máscara! Puro Carnaval! No fundo sou uma criança. Infantil. Titubeio. Duvido. Se não tivesse raiva de mim mesmo, creio que choraria.
O que vocês, rapazes do Rio, fizeram por mim, é coisa que nunca pagarei.
Trago-te comigo.Até breve. Até junho ver-nos-emos no Rio? Ou em Petrópolis se inda lá estiveres.
Dessa vez nenhum Carnaval me fará roer a corda.
Até breve, mais uma vez.
Mário



quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Paula por ela mesma...



PAULA IZABELA é Professora de Literatura, Produtora Cultural, Parecerista Editorial e Blogueira. 

Licenciada em Letras (1997–2001) e Especialista em Literatura Brasileira (2001–2003) pela Universidade Regional do Cariri – URCA; cursou extensão em Projetos Culturais pela Fundação Getúlio Vargas – FGV através de programa do Ministério da Cultura (2010–2012).

Nasceu em Juazeiro do Norte – CE (1978), onde reside. Ao concluir o 4º semestre de Letras, após 02 anos trabalhando em Cartório, abriu mão da carreira de escriturária para se dedicar à Educação (1999). 

Passou a lecionar do Ensino Fundamental ao Médio na rede privada, em cursos Pré-Vestibulares e preparatórios para Concursos. Por 06 anos foi professora de Pré-Vestibular no Serviço Social do Comércio – SESC, e por 03 anos, no Serviço Social da Indústria – SESI. Em 2006, aprovada em concurso público, tornou-se professora da Rede Municipal de sua cidade, cargo em exercício.

Por 10 anos, ministrou cursos bíblicos para jovens, dirigiu grupos de Teatro em paróquias e coordenou eventos católicos.

A partir de 2007, iniciou atividades como facilitadora, palestrante, mediadora e produtora cultural no Centro Cultural Banco do Nordeste – CCBNB, na Secretaria de Cultura do Governo do Estado do Ceará – SECULT e outras instituições. Funções que exerce no Ceará e na Paraíba atualmente.

Desde 2008, publica contos, crônicas, poemas e sua agenda cultural no blog "Viver medespenteia". Escreveu o romance, ainda inédito, "Gatoeira para cães e ratos". Seus textos também são publicados em sites e antologias impressas. 

Fonte: Facebook
Publicado por: Senna Xavier

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Biografia


O recifense Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho mudou-se ainda jovem para o Rio de Janeiro. Em 1903, transferiu-se para São Paulo, onde iniciou o curso de engenharia na Escola Politécnica da USP (queria ser arquiteto, curso então ligado à escola de engenharia). No ano seguinte, abandonou os estudos por causa da tuberculose e retornou para o Rio, onde escreveu poesia e prosa, fez crítica literária e deu aulas na Faculdade Nacional de Filosofia. Por causa da doença, passou longos períodos em estações climáticas no Brasil e na Europa. Entre 1916 e 1920, perdeu a mãe, a irmã e o pai.

Em 1917, publicou "A Cinza das Horas", de nítida influência parnasiana e simbolista. Dois anos depois, lançou "Carnaval", fazendo uso do verso livre. Já se mostrava um dos precursores da linha modernista, e Mário de Andrade o chamaria de "São João Batista do modernismo brasileiro". Apesar disso, em 1922, por não concordar com a intensidade dos ataques feitos aos parnasianos e simbolistas, não participou diretamente da Semana de Arte Moderna (nem sequer viajou para São Paulo).

Fonte: Uol
Elaboração: Senna Xavier