Em janeiro de 1926, Bandeira foi a Pouso Alto, Minas
Gerais. Foi também descansar uns tempos na casa de Ribeiro Couto, que nessa
época era promotor nessa cidade mineira. Certo dia passou por lá Carlos
Drummond de Andrade, para “um jantar entre dois trens”, como relatou o próprio
poeta mineiro. Conheceram-se pessoalmente o autor de A cinza das horas e o futuro autor de Alguma poesia, pois por carta já se conheciam há
alguns anos. Em “carta a Mário de Andrade, Bandeira assim se referiu a
Drummond: “O Drummond jantou aqui conosco. Feinho pra burro. Implicantinho. A
gente não faz fé. Couto deu uma esfrega de verve nele. Afinal já no trole a
caminho da estação ele riu. Uma semana depois ele escreveu de Belo Horizonte se
rindo muito e mandando quatro poemetos, três dos quais deliciosos, perfeitos,
definitivos”. Drummond, por sua vez, também relatou o episódio em carta a
Mpário de Andrade: “ Que jantarzinho agradável foi esse, e que pena você não
estar presente! Falamos um pouco de tudo e não chegamos a acordo sobre nada.
Gostei muito deles dois, se bem que achasse o Ribeiro Couto mais expansivo que
o Manuel. Este último é assim mesmo? Porém mesmo assim gostei muito dele. São
dois camaradões, não há dúvida”.
Sobre a viagem de volta de Pouso Alto para o Rio de Janeiro,
existe também uma carta saborosíssima de Bandeira para Joanita Blank, datada de
11 de fevereiro e 1926:
‘Pois, minha gente, foi uma expedição! Primeiro pra começar, a
estrada de Pouso Alto para a estação estava se consertando, de sorte que não
passava nem automóvel nem charrete. À vista do que tivemos que ir... de carro
de boi! Dois caixões com uma manta por cima e nos instalamos eu, a Menina
[mulher de Ribeiro Couto] e o Couto e levamos uma hora pra chegar – uma coisa
que o automóvel faz em 10 minutos. [...] O carro ia cantando, o crepúsculo
estava estupendo e o Couto (que raspou a cabeça à máquina! Está agora
completo!) me disse: “ Você Manuelzinho, nunca pensou que havia de ter a honra
de viajar em cima de um órgão!”.
Chegados
na estação soubemos que o trenzinho vinha com um atraso de 2 horas. Apenas.
Ficamos lá como almas penas [...] Chegamos a Cruzeiro, para estranha a cama,
não dormir e no dia seguinte viajar de dia, que me cansa tanto? Pois sim!
Comprei passagem no noturno, sem cama. Chegou o trem com meia hora de atraso.
COMPLETAMENTE CHEIO. O Couto quis me reter. Eu arrisquei viajar a pé. Tive
sorte. Logo que o trem partiu, passou o chefe do trem e eu, com o meu arzinho
mais corruptor, perguntei se não podia se dar um jeito pra me arranjar cama.
[...] Não dormi mas fiz melhor: ouvi durante toda a noite o poema futurista
“Petreque-petreque! Petreque-petreque! Túnel! Petreque-petreque! Pontilhão!
Petreque-petreque!- fiiiiiiiii...u! Parada. A lanterninha do vigia. Uma voz no
meio da noite. Etc.